Dinâmicas
intra-organizacionais. Um olhar na perspectiva da análise de redes sociais num
serviço de saúde. (Dissertação da VIII Edição do
Mestrado em Intervenção Sócio Organizacional em Saúde. (ESTESL /Universidade de
Évora). Orientador: Professor Doutor Joaquim Fialho).
(Carla Santanita, Enfermeira)
PALAVRAS-CHAVE
Redes sociais, análise de redes
sociais, cooperação intra-organizacional, organização e capital social.
RESUMO
A cooperação encontra-se presente na
vida do Ser Humano desde a sua existência primordial, apontando assim para
colaboração entre indivíduos, no sentido de alcançar objectivos comuns. No
entanto, ainda que a totalidade dos membros de um grupo beneficiem da
cooperação de todos, o interesse próprio de cada indivíduo pode agir em sentido
contrário. Cooperar é para cada ser humano, fazer a sua parte na rede de
interdependências necessárias à sua sobrevivência. Um aumento de nível de
cooperação pode levar a um aumento de competitividade para com outros grupos
externos à organização, levando a que a esta apresente vantagens competitivas.
Esta comunicação centra-se na identificação do nível de cooperação numa Equipa
Multidisciplinar de um serviço de saúde no distrito de Évora, tentando
compreender as dinâmicas intra-organizacionais entre os diferentes actores sob
a orientação metodológica da Análise de Redes Sociais “Social Analysis
Networks”.
As organizações de saúde são
organizações muito específicas, constituídas por os mais variados grupos sócio
profissionais, detentores de um conjunto de saberes próprios. Estes diferentes
profissionais conferem vida e especificidades muito próprias às organizações
embora possuam um mesmo objetivo, prestar cuidados de saúde de uma forma
holística aos utentes que recorrem aos seus serviços. É certo que, atualmente,
pelas mais variadas razões que vivemos, as organizações são obrigadas a
delinear estratégias que lhes confiram criatividade e inovação de forma a
tornarem-se cada vez mais competitivas. Os utentes cada vez mais se apresentam
mais exigentes e são detentores de mais informação, exigindo cuidados rigorosos
e de excelência aos diferentes profissionais. Nesta perspetiva, faz todo o
sentido compreender as dinâmicas intra-organizacionais num serviço de saúde e
compreender os seus impactos na organização.
Assim, a temática da presente
investigação centra-se nas “Dinâmicas Intra-Organizacionais. Um Olhar na
Perspetiva da Análise de Redes Sociais num Serviço de Saúde” tomando como
pergunta de partida: “Qual o nível de cooperação existente numa Equipa
Multidisciplinar num serviço de saúde?”. Assim, perante a pergunta de partida e
problemática construída, resultam os seguintes objetivos gerais / específicos:
Objetivos Gerais:
·
Compreender
a dinâmica de cooperação numa Equipa Multidisciplinar num serviço de saúde específico;
·
Construir
uma proposta de intervenção para melhorar os níveis de cooperação na
organização.
Objetivos Específicos:
·
Representar
a rede da Equipa Multidisciplinar de uma Unidade de Cuidados Continuados
Integrados;
·
Identificar
dinâmicas de partilha de recursos (informação, conhecimento, materiais,
tarefas);
·
Identificar
buracos estruturais na rede intra-organizacional;
·
Identificar
laços fortes e laços fracos na rede;
·
Identificar
os efeitos da rede no comportamento da Equipa.
O presente estudo é sustentado
sobretudo no conceito de rede social “Social Networks”. Segundo Mercklé (2004),
citado por Portugal (2005), uma rede social pode ser definida como “um conjunto
de unidades sociais e de relações, diretas ou indiretas, entre essas unidades sociais,
através de cadeias de dimensão variável”. As unidades sociais podem ser
indivíduos ou grupos de indivíduos, informais ou formais, como associações,
empresas, equipas, organizações, sendo as relações estabelecidas entre os
elementos da rede transações monetárias, troca de bens ou serviços, transmissão
de informações que podem envolver interação direta ou não, permanentes ou
pontuais. Deste modo, uma abordagem a partir da ARS permite uma enorme
flexibilidade analítica relativamente ao problema que o investigador pretende
estudar. Na presente pesquisa pretende-se discutir dinâmicas entre os elementos
que compõem uma Equipa Multidisciplinar de um serviço de saúde, mais
especificamente (as dinâmicas de cooperação), a partir do individual para
compreender a rede como um todo. Segundo Knoke e Kuklinski (1982), citado por
Portugal (2005), o principal valor da ARS assenta sobretudo na premissa de que
a estrutura das relações entre atores e a sua localização individual na rede
têm importantes impactos (perceções, atitudes e comportamentos) quer para os
indivíduos individualmente, quer para o sistema num todo.
Segundo Piseli (1998), citado por
Portugal (2003), o conceito de rede social constitui uma ferramenta
metodológica a partir da qual se pode observar a complexidade e riqueza dos
laços sociais, as dinâmicas de interacção e os processos através dos quais as
formas e os espaços são construídos. Desta forma a tarefa da investigação não é
estudar as relações entre unidades de sistema social e fixá-las em modelos estáticos,
mas sim analisar processos, dinâmicas de interacção, movimentos do sistema
social e mecanismos de mudança. Nesta perspectiva, a melhor maneira de
demonstrar todas as suas potencialidades.
Assim, abordando o conceito de redes
sociais numa perspectiva dinâmica que não está fixo nem “ossificado” socorre-se
a uma investigação dual. Por um lado, aplicando uma abordagem quantitativa
(questionário sociométrico) e, por outro lado, num momento posterior, indo ao
encontro dos actores chave, através de uma abordagem qualitativa (entrevistas),
sendo possível confrontar dados colhidos anteriormente e aprofundar a dinâmica
de cooperação existente nesse serviço.
Segundo Cross (2010), a maior parte
das organizações retira pouco partido da gestão do capital relacional. Os
líderes das organizações reconhecem a importância das redes informais quando se
trata de influenciar o comportamento mas não conseguem compreender quando é que
essas redes são efectivas e quando não o são. Apresentam assim, uma grande
dificuldade em descobrir como as redes funcionam para além dos seus próprios
pontos de conexão. O que não pode ser visto, por norma não é medido, e o que
não se mede, dificilmente será gerido. A perspectiva de redes sociais permite
tomar decisões e simplificar as exigências de colaboração, permitindo verificar
onde é que existe o bloqueamento de informação dentro de uma organização. A ARS
permite simular o que aconteceria aos índices de produtividade e criatividade
se actores chave saíssem da organização, fornecendo sinais de alerta
antecipados.
Num futuro não muito longínquo, iremos olhar e gerir as
organizações de uma forma muito diferente, iremos olhar para as organizações
numa visão activa, em movimento, a terem uma vida cheia oportunidades e
ameaças. As organizações não são mais que o reflexo das pessoas que lhe dão
vida dia após dia.