O
papel do Plano Individual de Intervenção no Planeamento da Alta em Cuidados
Continuados – O Modelo da Unidade de Convalescença de S. João de Deus
(Nelson Mestrinho, Enfermeiro)
PALAVRAS-CHAVE
Plano Individual de Intervenção, objetivo geral, objetivos específicos,
qualidade de vida e expetativas.
RESUMO
A preparação da alta do utente de cuidados continuados tem início
no dia do acolhimento do utente na unidade. No acolhimento, a Equipa deve verificar
quais as expetativas do utente com o
internamento e qual o seu conceito de qualidade de vida, uma vez que este
conceito condicionará toda a reabilitação do utente na Unidade, assim como deve
servir de elemento de referência para a elaboração do objetivo geral do internamento.
Se utente X procura com
a estadia numa Unidade (expetativa/conceito de qualidade de vida para o
utente), o objetivo geral deverá ser
definido em função da mesma e desta forma é criado o seguinte objetivo: “Que o utente ganhe autonomia nas AVD’S”.
Há um fator importante no meio deste processo que se prende com a
expetativa da família, muitas vezes diferente daquela que o utente possui. Se a
família não tiver condições para receber o utente em casa se este não sair da Unidade
autónomo, esta questão terá que ser explanada no momento do acolhimento. Qual o
motivo para tal afirmação? Há ausência de cuidador (demasiado idoso, com
problemas de saúde, em idade ativa e única fonte de rendimento, sem
conhecimentos na prestação de cuidados)? A casa não tem condições habitacionais,
com barreiras arquitetónicas que inviabilizam o regresso do utente? Condições
económicas deficientes? Poucos conhecimentos do cuidador para a prestação de
cuidados?
As respostas a estas questões serão tidas em consideração na
elaboração dos objetivos específicos do PII, motivo pelo qual é necessário
envolver a família desde o início em todo o processo. É informada a família e o
próprio de que será avaliado nas próximas 48 horas pela Equipa da unidade e é
marcada a reunião de aprovação e discussão do PII para uma semana depois da
entrada do mesmo na unidade.
A primeira semana na unidade é de grande importância, uma vez que
permite avaliar as potencialidades do utente e fazer a projeção do que poderá
acontecer nos 30 dias seguintes. A Equipa reúne em Reunião Multidisciplinar, discute
o caso e constrói-se o PII. No caso anterior, na avaliação inicial do utente
deve ser utilizada uma Escala de Avaliação das AVD’S (por exemplo, o Índice de
Barthel).
O Score da Admissão corresponde ao estado atual do utente, sendo
que o Score Pretendido no Final dos 30 dias é o que a Equipa pensa que o utente
conseguirá atingir. O objetivo específico criado será: “Que o utente passe de um Score de Barthel de 60 para 90 no espaço de 30
dias”. Quando é apresentado o PII à família, é mostrada esta tabela e
referido que a Equipa tenciona dar alta ao utente se este objetivo for atingido
no espaço de 30 dias e prorrogar o internamento se atingir pelo menos o Score
de 80. Como será lógico, na grande maioria das vezes a melhoria dos utentes não
é tão evidente, motivo pelo qual é necessário construir uma meta menos
ambiciosa no primeiro PII. Contudo, a concretização ou não dessa primeira meta
menos ambiciosa do primeiro PII, deve servir para informar a família da
possibilidade de haver ou não prorrogações do tempo de internamento ou
transferências de tipologia, assim como também, da alta para o domicílio, por
não ser possível reabilitar mais o utente e não existirem critérios de
transferência.
Do exposto nos pontos anteriores, entra o papel do Gestor de Caso
na comunicação ao cuidador/família do sucesso do utente na unidade, assim como
do feedback da Equipa face à evolução do utente, normalmente com a
periodicidade semanal. A família é assim envolvida em todo o processo.
O PII é assim o instrumento de programação da alta nas unidades e
é utilizado como “ferramenta compromisso” entre o utente/cuidador e Equipa. Uma
vez que é negociado e explicado à família, a alta é um processo transparente,
onde todos sabem com o que devem contar.
A decisão do momento da alta dá-se quando os objetivos são
atingidos ou, quando não atingidos, no momento em que utente/cuidador e Equipa
consideram, por via da negociação, não ser mais vantajoso para o utente a
permanência na unidade, altura em que se opta pela transferência ou alta para o
domicílio, com ou sem suporte. Esta escolha relaciona-se sempre com a
existência de objetivos cujas metas não foram cumpridas. Um exemplo disso é a
ida para casa com apoio domiciliário ao nível da higiene, relacionada com a não
evolução da utente neste item do Índice de Barthel.
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